domingo, 31 de outubro de 2010

Meu Conto de Natal

 Permitam-me compartilhar com voces essa experiência única vivida  pela nossa família e que tem expandido o nosso amor e mudado nosso olhar para com as diferenças, colaborando com o nosso crescimento espiritual.

Meu Conto de Natal

                                                                                        Stuttgart, dezembro de 2007
Era véspera de Natal e fazia um frio intenso naquela noite. Ela estava no saguão do Teatro da Oficina de Trabalhos da Escola Carl Schubert onde a peça teatral "O nascimento de Jesus Cristo" seria encenada por seus alunos portadores de "Síndrome de Dawn" e outras anomalias. Uns com sequelas graves, outros, nem tanto. Esperavam a abertura do salão do teatro, pessoas elegantes, muito bem vestidas com casacos, sobretudo, luvas e cachecóis de variadas tonalidades. Os trajes invernais por sí, conferem certa elegância natural.
Havia muita expectativa no ar, sorrisos um tanto preocupados, contidos e solidários. Eram todos, familiares e amigos dos alunos-atores.
Finalmente abriram-se as portas do teatro e ela sentou-se em um dos primeiros assentos à frente, para que pudesse correr atrás dos dois netinhos que poderiam se entediar pela espera e começar a correr pelo recinto. De fato, as crianças correram todo o tempo que antecedeu o início das atividades.
Iniciou-se o espetáculo. Ascortinas se abriram e apagaram-se as luzes da pletéia e um cenário luminoso no palco, remetia à cabana da manjedoura onde nasceu Jesus Cristo. As crianças arregalaram os olhos e se aquietaram.
Antecedendo o início do Auto de Natal, o diretor da Escola e também coordenador da peça teatral, dirigiu-se à platéia em tom coloquial:
"Senhoras e senhores, boa noite! Ao longo dos meses de ensaio da peça durante este ano, muitas vezes nos perguntamos:"Será que vale a pena?". Mas, quando víamos nossos alunos chegando um a um, com tanto sacrifício, sentíamos que era preciso continuar. No decorrer dos vários meses de ensaio, muitos deles tiveram a sua doença agravada: uns foram perdendo a fala, outros perderam alguns movimentos e vinham amparados por assistentes e até os que perderam os movimentos das pernas e passaram a vir aos ensaios em cadeiras de rodas. Participar dessa peça teatral no final do ano era para nossos alunos a grande motivação e incentivo para lutar contra a limitação imposta pela doença. A força de vontade deles, a energia e alegria fez com que eu e os professores participantes, refletíssemos e sentíssemos vergonha der termos sido fracos e pensado em desistir. E assim, motivados por eles, continuamos os ensaios e chegamos ao grande dia de hoje, da apresentação da esperada peça teatral "O nascimento de Jesus Cristo". E é com esse espírito que gostaria que voces assistissem e aplaudissem esses verdadeiro heróis que não sucumbem jamais e seguem em frente "driblando" as dificuldades".
Ela olhou com extrema admiração para aquele professor no palco e pareceu-lhe ter visto um halo de luz intensa envolvendo aquele ser e admirou, sobretudo a sua humildade. Admirou também todos os professores que se envolveram nesse projeto que resgata a auto-estima desses alunos, dedicando carinho, paciência e muito amor. E se encantou com os atores. Esses "Anjos de Luz" que só sabem dar amor, sem nada pedir em troca e que são extremamente carinhosos. É preciso aprender a amar e expandir a capacidade de amar e eles nos ensinam, simplesmente amam...
Quando se deu conta, estava juntamente com a filha Aline, se debulhando em lágrimas e seguiram assim até o final da peça. Não há como  não se emocionar dizia, sabendo da história dos bastidores, diante da alegria, do esforço supremo para realizar o sonho de Natal. Na verdade, estava sentindo um misto de admiração e alegria pela comprovação de que nada é impossível e que os seus desafios chamados "problemas" passaram a ser ínfimos e insignificantes. Ao mesmo tempo, ela sentiu que em seu coração não mais poderia haver sentimento de insatisfação nem de reclamação.
Ao encerrar a peça todos se levantaram emocionados e aplaudiram generosamente e foi um sucesso!
Ao final, percebia-se que a maior alegria era da platéia por  ter "lavado a alma" e ter recebido tão grandioso ensinamento e exemplo de superação.
Nesse momento, ela se deu conta que esse não era um Natal como os outros. Estava vivendo um verdadeiro espírito natalino de amor, inclusão dos especiais, de elevação de espírito.
Certamente o aniversariante de Natal deve estar Feliz e Presente como nunca no coração de todas pessoas ali presentes.
Ela teve a sensação de estar a um passo do Paraíso.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

CONTOS DA SUÁBIA - "Faxineira pianista"

Como na Alemanha, onde reside minha filha Aline, é escassa a mão de obra braçal, tipo, faxineira, babá etc, geralmente eles utilizam os serviços do pessoal do chamado leste europeu: poloneses, russos e outros.
Quando a jovem faxineira russa, se demitiu para prosseguir os estudos, Aline lamentou porque era boa faxineira e gostava das crianças.
Porém, logo, ela arrumou outra russa, dessa vez já avó que além de gênio bom, mostrava bons serviços e além de tudo, tocava piano! - como a maioria dos russos que sabem tocar algum instrumento.
Outro dia, Aline me pediu a letra de uma música que a russa adora: "Besame Mucho" no original em espanhol.
Assim que enviei pelo e-mail, me contou que no mesmo instante, a russa sentou-se ao piano, tocou a melodia  "Besame Mucho" e pediu que Aline cantasse.
Daqui onde estou, a 10.000 km de distância, imaginei a cena das duas ao piano, tal como mãe e  filha, cantando alegremente, ao iniciar o dia.
Creio que são cenas inimagináveis para nós brasileiros, e quero compartilhar esse momentinho terno com voces.
Diz com orgulho a Aline:"Não é chic mamãe, ter uma faxineira pianista que de vez em quando dá uma audiçãozinha?"

domingo, 19 de setembro de 2010

Viagens de Sensações - parte 1 - LISBOA "Naquela mesa"

Caminhando pela velha Lisboa, de calçadas de pedrinhas portuguesas reluzentes pelo uso e escorregadias, chegamos ao Café e Restaurante "Martinho da Arcada", frequentado por Fernando Pessoa.
José Saramago - prêmio Nobel de Literatura - também rendeu-se ao encanto do lugar aconchegante, como atestam as fotos nas paredes.

Dentre as fotos, uma me chamou a atenção porque era um poema de Fernando, escrito à mão. Comecei a ler em voz alta, em pé, defronte ao quadro, soletrando algumas palavras quase inelegíveis, quando um senhor que almoçava na mesa abaixo do quadro, recitou o poema inteiro decor. Surpresa, perguntei: "Como o senhor sabe o poema inteiro?", ele me respondeu: "Eu almoço e janto Fernando Pessoa, isso aqui é minha vida". Percebi que era o dono do restaurante. Um português simpático, que morou uns tempos no Rio de Janeiro e estava almoçando para minha surpresa, uma "feijoada"!

Quando pedi licença para me sentar e prosear um pouco, me disse: "Por favor, sente-se naquela mesa de mármore. É ali que Fernando sentava".
Engraçado que só pelo fato de saber que tão ilustres figuras estiveram alí sentados, fui invadida por um sentimento inexplicavelmente gostoso, uma sensação de como estivesse conhecendo um lugar mágico, como um pedacinho do céu...
"Naquela mesa" me sentei, cônscia da abenção por ali estar e deixei-me "estar" e "divagar".
Trio na mesa de mármore
 Graças ao amigo lisboeta João Vieira dos Santos que programou um roteiro logisticamente perfeito, de caminhada pelo Centro Histórico de Lisboa sem muito esforço, findando sabiamente, para nosso deleite, em uma Cervejaria, a "Cervejaria Trindade", primeira cervejaria de Lisboa e para fechar com "chave de ouro", saborear uma cerveja cheia de histórias. Interessante que era um antigo Convento de Freiras e me lembrei de uma frase de Eça de Queiroz, em sua própria terra. Como ele diria, eu e o João estavamos " trocando o Templo pela taverna".
 

Matamos a sede com um pouco de histórias do convento.
Ainda lembrando o grande escritor, que segundo a geometria, a distância mais curta entre dois pontos é uma linha reta, mas que se achar que para ir da "Baixa", até a Cervejaria Trindade me saia mais direito e breve rodear pelo Bar do "Nicola" onde frequentou Eça de Queiroz e Du Bocage, a casa onde nasceu Fernando Pessoa e o "Bar Brasil" de Fernando e JK, declararia à secular geometria -  que a distância mais curta entre dois pontos é uma curva vadia e delirante.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Momento família

Meu filho Bruno, logo pela manhã, me disse:
Bom dia, mamãe! Que tal um presentinho?
Estou oferecendo para você e para o papai, um jantar onde vocês quiserem. Eu recebi este prêmio pelos números de vendas alcançado pela equipe que eu coordeno. Então, ao invés de eu usar, quero dar de presente aos meus pais.
Eu ponderei: Os méritos são seus, nada mais justo que você usufruir do prêmio!
Me respondeu: Tudo que sou, devo a vocês! Escolham um lugar bem legal. Vou precisar apenas da Nota Fiscal, para ser reembolsado. Espero que tenham ficado felizes!
A mãe escreve para o filho porque não consegue falar (está chorando de emoção)
Filho, isso não é um presentinho! É um presentão".
Para os pais, o bom desempenho de um filho nos estudos, no trabalho e na sociedade já é um presente. E quando esse filho oferece o seu prêmio a seus pais, é uma dádiva de Deus!.
Estou emocionada, chorando e agradecendo por você existir e ser meu filho.
Que Deus continue abençoando-o sempre.
Eu confio no seu futuro maravilhoso. Tenho absoluta certeza disto.
Um beijo e um abraço ,
De sua mãe.
Nota: Isto aconteceu em 2006. Hoje êle está em missão longe de casa, fazendo o que gosta e o que era seu  sonho de menino.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A Ginjinha

Na foto do perfil, faço um brinde a você com a "Ginjinha" - famosa bebida de Lisboa - que é um licor de uma fruta semelhante à cereja. Doce lembrança de momentos inebriantes passeando por lugares por onde andaram meus três mestres da literatura portuguesa que admiro: Eça de Queiroz, Fernando Pessoa e José Saramago.
Veja a poesia singela, referindo-se a tal gostosura que estava escrito na porta da casa "A Ginjinha". Me enterneceram  tanto que fiz questão de anotar...
"É mais fácil com uma mão dez estrelas agarrar, fazer o sol esfriar, reduzir o mundo a grude, mas ginja com tal virtude, é difícil de encontrar".